Ao entrarmos em uma nova década, caracterizada pelo aumento de complexidade econômica e das divisões geopolíticas associadas ao surgimento de um novo vírus – tensões EUA-China, populismo e nacionalismo na Europa, além do risco iminente de uma recessão global – precisamos pensar como líderes empresariais com visão de futuro estão desenvolvendo estratégias para mitigar em longo prazo o risco da desglobalização. Eles estão realmente preocupados com as vidas humanas ou com a perda real de lucro em uma concorrência desleal, onde o dinheiro é o Senhor das vidas?

Entretanto, há um risco mais oculto associado à desglobalização: risco de as empresas globais não estarem estruturadas de maneira adequada para competir em um mundo desglobalizado. Fica cada vez mais claro que esse mundo cada vez mais isolado afeta diretamente três pilares principais das corporações globais: tecnologia, recrutamento global e função financeira.

Nos últimos anos, a liderança corporativa priorizou corretamente os riscos cibernéticos, a ameaça de obsolescência tecnológica e a ascensão da subclasse de desempregados decorrente do aumento da automação. No entanto, agora há preocupações crescentes com a Pandemia do novo Coronavírus e a emergente “splinternet” – uma Internet cada vez mais fragmentada com plataformas concorrentes lideradas pela China e pelos EUA.

Só para se ter ideia, essa fragmentação tecnológica prejudicaria as cadeias de suprimentos globais, permitindo às empresas globais obter uma vantagem competitiva ao escolher a solução mais econômica em cada estágio do processo de produção. E o afastamento de tais compras centralizadas aumenta os custos e reduz os ganhos de eficiência dos serviços globais compartilhados.

As regras relativamente leves de privacidade de dados na China permitem o acesso a grandes conjuntos de dados com mais informações individuais. Isso pode acelerar a inovação, incluindo a descoberta de medicamentos de ponta que, por sua vez, ajuda a reduzir os custos para os consumidores finais e a impulsionar valores mais altos da empresa em uma época como essa.

A mudança de um modelo mais centralizado para um mais nacionalizado traz complexidade adicional, pois os líderes empresariais devem lidar com a mudança de um cenário de negócios harmonizado com tomada de regras em direção a uma rede cada vez mais complicada de processos e regulamentos independentes em diferentes jurisdições. Gerenciar razoavelmente ou mitigar ameaças em um mundo isolado exigirá níveis extraordinários de conhecimento altamente especializado em nível local – tornando quase impossível entender o orçamento de risco necessário, muito menos proteger adequadamente esses riscos locais.

Obviamente, as multinacionais já precisam respeitar as várias regulamentações dos mercados em que operam e, portanto, exigem profundo conhecimento local para serem eficazes.  No entanto, à medida que o protecionismo leva os governos a assinar menos regras e regulamentos globais, e as regras de negócios tornam-se menos sistematizadas, os órgãos reguladores nacionais se tornarão fundamentais.  Por sua vez, os requisitos de conhecimento local certamente serão mais necessários, pois as empresas precisarão de um conhecimento cada vez mais detalhado e específico para operar e obter sucesso.

 

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